Empreendendo sozinha

Ontem tive uma longa conversa com uma prima que também é empreendedora, começando com o tema clássico "a vida está sempre corrida". Mas então me vi compartilhando algumas dicas que dão certo pra mim, já que decidi que minha jornada nesse mundo seria o mais leve possível. Então, hoje pensei em compartilhar o que conversei com ela, buscar alguns temas de influenciadores que admiro pra inspirar minha copy, foi quando uma voz na minha cabeça me lembrou que minhas atitudes e decisões não têm resultado numa vida financeira decente.
Sim, tenho tentado me manter organizada, persistente todos os dias, revendo as estratégias, me dando pausas e usando o máximo de ferramentas pra tornar meu trabalho mais eficaz, estimulante e, ao mesmo tempo, leve. Mesmo assim, quando chega perto de pagar minha fatura do cartão e os pagamentos não caem na minha conta, uma onda de estresse me toma por completo. E esse é um ciclo que venho lidando há anos trabalhando pra mim mesma. Então, como vou falar para as pessoas o que fazer se em um campo crucial eu fracassei?
Nossas dores
Tudo começou com a dualidade da vida moderna, com já não temos mais tanto tempo pra conversar face a face com amigos e parentes. Isso é mais agravante pra mim, já que sou introvertida, raramente saio de casa e só saio por um ótimo motivo. Consequentemente, me sobraram pouquíssimas amigas. Quando estava no estúdio de design, antes da pandemia, ainda convivia com outras pessoas em uma relação de trabalho, mas depois … mas vejo gente nova.
O que nos levou para as redes sociais, a dependencia delas pra atrair e validar clientes e o tempo que elas tem roubado da gente. Muitas vezes me vi rolando o feed sem saber o que estava buscando, só pela endorfina, eu acho. Pra quem empreende o fluxo é mais ou menos assim: a gente prepara algum conteúdo, posta e fica esperando validações; enquanto isso vai rolando o feed pra ver o que os outros estão fazendo — no meu caso me sentindo que nunca vou conseguir ganhar a corrida pelo engajamento, que meu conteúdo não é bom o bastante e depois me dando uma bronca por está comparando minha vida e meu trabalho com o dos outros. — Acontece que quando você da conta, já se passaram horas e você não fez nada do que tinha se comprometido a fazer.
Isso seguiu para o vício em telas alimentados não só pelo estímulo visual, mas também pelo fato de que a comunicação com clientes e parceiros é feita quase exclusivamente pelo Whatsapp. Como designer de interfaces eu sei bem as estratégias de estimulo visual tem como objetivo te manter o mais tempo possível em um ambiente virtual. De faço faço parte do que me causa vício. Lido com telas diariamente desde os 14 anos e, francamente, me preocupa um pouco o preço que vou pagar por isso quando meus olhos seguirem o fluxo natural de envelhecimento. Mas entendo que, quem está no mercado de trabalho hoje não tem como se dar ao luxo de largar do Whatsapp. E ligar o celular para ver uma mensagem ou outra é o mesmo de abrir a caixa de Pandora, há outros estímulos que vão te levar a distração e fazer com que o tempo passe em um piscar de olhos novamente.
Depois, falamos sobre como lidar com dinheiro, já que, afinal como empreendedoras solo tudo vai pra nossa conta e cabe a nós saber lidar com o fluxo de caixa e separar o que é nosso e o que é da empresa, sendo que a empresa sou eu (praticamente). Isso sempre foi um calo pra mim, já que o tempo todo me pego pensando como trabalho pra caramba e sou mal paga, mas não tenho como me demitir.
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Como tento lidar com elas
Venho trabalhando para mim há 10 anos e adotei o lema "Eu não vou endoidar" no final de 2024. Muitas coisas aconteceram nesses últimos anos que me levaram a ter crises existenciais e de choro. Por isso, tomei algumas decisões para continuar navegando neste planeta tentando não adoecer física e mentalmente.
- Está me fazendo mal, recalculo a rota
Quando decidi deixar o estúdio e focar em ser freelancer me comprometi comigo mesma de pensar mais estratégicamente nas coisas. Isso significa que posso até traça planos e me esforçar em segui-los, mas a qualquer momento, vou olhar para eles e mudar o que for necessário.
- Tempo de qualidade com quem amo e rotinas de contato flexíveis
Sei que sou introvertida e que meu estado de conforto é o isolamento, mas tenho consciência que a longo prazo me sinto mal, então estou sempre alimentando interações com quem amo. E a realidade, é que o tempo está limitado pra todo mundo que está no mercado de trabalho, então ficou confortável pra mim e pra minha amigas encontros em datas comemorativas, conversas por meme, alguns almoços em fins de semana — quando dá pra todo mundo, o que acaba sendo duas ou tres vezes no ano. E a certeza que tá tudo bem sumir um tempo e voltar com a mesma qualidade de contato depois. Já com minha mãe, gosto de ter momentos no dia pra assistir um filme, relaxar com uma mascara no rosto e ir a feira juntas todo sábado.
- Minimizar redes sociais
Esse foi o ano que larguei o Instagram, a conta está ativa, mas às moscas. Talvez volte a postar coisas de trabalho, mas ficar rolando o feed? Não, obrigado! Em janeiro me senti muito mal por não esta em fotos com amigas, não ir pra praia, não está fazendo nada interessante o suficiente que rende um recorte da minha vida. E esse é um pensamento cruel e estúpido!
Assim como decidi não assistir mais filmes de terror, não vou mais me alimentar de conteúdos que me fazem mal. Isso significa que também parei de ver jornal com a mesma frequência que via. Passei muitos anos me inteirando do mundo, e ele continua inóspito e insalubre, então vou tirar umas férias, me atualizar do básico e parar de me importar com a maldade e estupidez do mundo por um tempo.
Hoje, posso até abrir o Instagram no computador, porque perco o interesse mais rápido. O resultado é que faço isso cada vez menos, nem lembro da ultima vez. Ainda uso o Threads (no computador também), Pinterest e Youtube. Este, realmente não tenho planos de parar, o filtro é bem melhor.
- Dinheiro da Anna PJ é separado do meu
Quem empreende precisa ter uma conta PJ, isso é unanime entre os que entendem de lei e de empreendedorismo. O que funciona pra mim é usar a conta PJ do meu banco, cartões de credito virtuais para ferramentas e pagar tudo que tem haver com trabalho com eles, incluindo a conta da internet e hardwares (computador, celular, mouse, etc).
Mudando o ritmo
Sou do tipo de pessoas que quando mais me mandam fazer alguma coisa, menos que quero fazer! Então ouvir que tenho que ir pra academia porque estou mais gordinha, só resulta em uma Anna irritada e definitivamente não indo a academia.
Porém, me vi com dores na coluna por passar tempo demais sentada, com os olhos doloridos e cansados pelo uso excessivo do computador. Me sentia claustrofóbica por passar quase todo o dia olhando para as paredes da minha casa. E estava adoecendo fisicamente, com tonturas, dores no corpo e taxas de vitaminas vergonhosamente baixas.
Não tinha mais como fugir – precisava mudar o ritmo. Um belo dia, simplesmente levantei, escovei os dentes, vesti a roupa de academia e fui caminhar sozinha na praça. Ali entendi que precisava não apenas movimentar meu corpo diariamente, mas também respirar, contemplar o horizonte, observar as pessoas na rua, os pássaros e sua leveza. Precisava desacelerar e fazer isso por mim mesma. Um momento só meu, comigo mesma.
Então, fiz um acordo comigo mesma: não importa a hora, quando eu levantar vou sair pra caminhar! Se furar essa promessa, vou me perdoar e tentar no dia seguinte, até virar um hábito, como escovar os dentes e tomar banho.
Quanto ao trabalho. Sei que reduzir o ritmo pode me causar mais danos financeiros, mas sabe outra coisa que causa isso? Adoecer. Não por algo natural, porque ninguém está livre de ficar doente, mas por uma rotina, por decisões que estou tomando todo dia que me adoecem.
Nesse campo, meu acordo comigo mesma foi fazer do meu tempo de trabalho o melhor possível. Uso o método pomodoro para me obrigar a levantar de vez em quando. Coloco Gilmore Girls ou uma série aconchegante enquanto desenvolvo código ou faço algo puramente operacional. Ouço mais música clássica, que amo e alimenta meu cérebro em atividades que exigem mais criatividade e foco. E mudo a trilha sonora quando meu humor está mais expansivo. Busco fazer da experiência diária — que faz parte de uma jornada da qual não tenho certeza para onde está me levando, mesmo sabendo onde quero chegar — a mais agradável e saudável, mesmo diante dos desafios e dificuldades financeiras.
Enfim…
O que proponho nesse desabafo não é uma lista de coisas que te farão ter uma vida dos sonho nem nada desse tipo. Acredito cada vez menos em pessoas que prometem coisas "ideais” pra os outros. Espero só lembrar do que parece óbvio: estamos aqui de passagem e talvez seja melhor fazer essa experiência algo único, com suas próprias regras. Lembrando que tudo tem consequências, cabe a nós decidir o que vale a pena ou não.
Espero ter ajudado alguém com isso.
Com carinho,
Anna